terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Universidade Aberta oferece curso de mediador de leitura


Ionice Lorenzoni -MEC, 13 de janeiro de 2010
.
.
Professores das redes públicas de educação básica de estados e municípios já podem fazer a pré-inscrição para o curso de formação continuada de mediadores de leitura. É um curso de extensão, na modalidade a distância, com 90 horas e duração de três meses.
.
Para o primeiro semestre deste ano, são oferecidas 2.890 vagas em 59 polos da Universidade Aberta do Brasil (UAB), sob a responsabilidade de oito instituições públicas de ensino superior das regiões Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul.
.
De acordo com Elaine Cáceres, da diretoria de políticas de educação de jovens e adultos da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad) do MEC, o curso será ministrado com apoio de materiais didáticos criados pelas universidades exclusivamente para o curso. Ampliar as possibilidades de trabalhar a leitura na sala de aula e nos ambientes da escola, ampliar os conhecimentos sobre os gêneros literários e aprofundar a compreensão do papel da leitura no desenvolvimento humano estão entre os objetivos desta ação.
.
Os temas a serem abordados no curso são linguagem e cultura, leitura de linguagens verbais e não verbais (cinema, teatro, música, dança, fotografia, arquitetura, hipermídia, cibercultura), textos literários e como trabalhar a leitura com diversos públicos – crianças, jovens, adultos e idosos.
.
Plataforma Freire – Os educadores fazem a pré-inscrição na Plataforma Freire, onde também escolhem o pólo mais próximo da residência ou do local de trabalho. Depois disso, as secretarias de educação estaduais ou municipais analisam e validam a inscrição e informam relação de nomes para as universidades. A previsão é que os cursos tenham início em março próximo.
.
Tabela de vagas e instituições que oferecem o curso:
.
.
Instituição........Número de Vagas........Número de polos
.
UFMS......................210.............................3
UFRPE....................150.............................3
IFCE........................120.............................4
UFMA.....................360.............................6
UPE.........................200.............................4
UNESP.................1.020...........................17
FURG......................200.............................4
UFRGS....................630...........................18
.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Mais do que dar dinheiro a pobres, é preciso educar, afirma Heckman

O GLOBO – 20.12.09

Autor(es): Agencia O Globo


Para o americano James Heckman, de 65 anos, prêmio Nobel de Economia de 2000, é preciso fazer mais do que mandar crianças para a escola a partir dos 6 anos de idade. Segundo ele, enquanto não se der maior atenção à primeira infância — de zero a 3 anos —, em especial nas famílias carentes, as desigualdades socioeconômicas continuarão se perpetuando.

Em visita ao Rio semana passada, ele explicou a sua tese ao GLOBO.

José Meirelles Passos O GLOBO: De acordo com as suas pesquisas, o nível de renda de uma pessoa, o seu êxito no trabalho, e até mesmo a possibilidade de que venha a cometer um crime estão associados à educação que ela teve logo na primeira infância e aos estímulos recebidos — ou não — de seus pais. Ou seja, quem não teve bons pais está condenado ao fracasso?

JAMES HECKMAN: Sim e não. Sim, no caso de não ter tido, a tempo, algum tipo de ajuda externa que possa remediar a situação. E não, se foi beneficiado com um auxílio desse tipo com base num programa bem estruturado.

O GLOBO: O senhor se refere a algum programa público?

HECKMAN: Pode ser privado. Mas eu acho que tal responsabilidade cabe, primeiramente, ao governo. Todo cidadão tem direito à saúde e à educação. Mas, no geral, o Estado acha que basta cuidar das pessoas a partir dos 6 ou 7 anos, colocando-as na escola. Sabemos cientificamente que deve-se dar atenção a elas com maior ênfase antes dos 3 anos de idade. E, de preferência, desde a sua concepção.

O GLOBO: Isso, então, implicaria cuidar também da saúde das mães...

HECKMAN: Exatamente. E em especial de sua nutrição. E depois, quando nasce o bebê, oferecer à família um programa que ensine os pais a serem pais de verdade. Que aprendam a estimular as crianças, lendo para elas, expondo-as à música, aos jogos, participando de brincadeiras, de atividades lúdicas.
O GLOBO: Isso quer dizer que o ideal é criar um programa específico para os pais?

HECKMAN: Para os pais e para as crianças. Ensinar aos adultos a serem pais melhores, e dar às crianças condições de adquirirem a vantagem que as demais, de famílias mais bem educadas, já têm de nascença. Pois é isso que faz a diferença. É isso que causa a grande divisão entre os que têm e os que não têm boas chances na vida. É preciso ensinar interação às famílias carentes; implantar um programa que possa transformar a capacidade social e emocional de toda a família.

O GLOBO: O senhor já constatou isso na prática, não?

HECKMAN: Sim. Criamos um programa de quatro anos (1961-1965), com um grupo de 123 crianças de idade pré-escolar numa cidade em Michigan. Cada classe tinha de 20 a 25 alunos, com 3 ou 4 anos de idade. As aulas eram diárias e duravam duas horas e meia. Ali as crianças eram estimuladas a interagir com as outras.

O GLOBO: Os pais delas participavam do programa?

HECKMAN: Dávamos apoio especialmente às mães, pois são elas que passam mais tempo com os filhos. As professoras visitavam as casas delas uma vez por semana e ficavam lá durante uma hora e meia, conversando, fazendo com que as mães se envolvessem no processo de educação dos filhos. As professoras também tinham o cuidado de ajudar em quaisquer outros problemas familiares.

O GLOBO: E os resultados?

HECKMAN: Eles comprovaram as nossas expectativas de que os cuidados intensos antes dos 3 anos de idade são essenciais para o bem-estar futuro de todos. Temos certeza disso porque, ao final daqueles quatro anos, cada família continuou tocando a vida por conta própria. Mas continuamos acompanhando o seu desenvolvimento, registrando o seu cotidiano. Aquelas crianças estão com 50 anos agora.

O GLOBO: Uma coisa é fazer uma experiência com um grupo pequeno; outra é implantar um programa que atinja famílias carentes em todo o país. Isso seria factível? Não seria muito caro um projeto desses?

HECKMAN: É claro que é possível implantar algo desse tipo em larga escala. E, sim, isso exige grandes investimentos. Mas eles dão um retorno fabuloso. A experiência mostrou que, para cada dólar aplicado, a sociedade ganhou nove. É preciso ter consciência de que a família tem um papel fundamental no bem-estar de uma sociedade. E, portanto, uma boa política de família acaba se tornando, na prática, uma boa política econômica.

O GLOBO: Pelo visto não bastaria apenas um plano específico na área da educação. Ele teria de envolver outros setores do governo, não?

HECKMAN: Trata-se, na verdade, de um programa integrado. Não pode haver boa educação sem que se cuide, ao mesmo tempo, da saúde. E não se pode bancar iniciativas nessas duas áreas sem uma boa política econômica. A questão central, que temos de fazer hoje, é a seguinte: qual é a maneira mais efetiva de se promover grandes realizações e reduzir a desigualdade? E a resposta é basicamente uma só, sejam quais forem as iniciativas a serem tomadas: é preciso educar no sentido completo, fundamental.

O GLOBO: Num país como o Brasil, em que os bolsões de pobreza ainda são grandes, a perspectiva de um grande número de famílias estar criando filhos para o fracasso parece se perpetuar, uma vez que os pais também são originários de famílias de educação baixa?

HECKMAN: Não necessariamente. É certo que um baixo índice de paternidade, ou seja, quando se tem pais que não tiveram uma educação adequada, a tendência é de que as gerações seguintes — salvo algum milagre — perpetuem esse ciclo. Por isso mesmo é preciso conscientizar a todos, e em especial aos governos, de que a atual noção de pobreza está mal definida.

O GLOBO: Como assim?

HECKMAN: Em geral se aceita o conceito de que pobreza é falta de renda. E, por isso, há governos que acham que dar mais dinheiro aos pobres resolve o problema. O essencial, a esta altura, é perceber a necessidade de se fazer mais do que isso: é preciso educar.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Ler um livro é preferência entre hábitos culturais no Brasil

João Augusto - Agência Brasil Que Lê - 26/11/2009
.
Essa foi a resposta dada por 65% dos entrevistados que fazem algum tipo de atividade cultural, conforme dados da pesquisa “Perfil do consumo de cultura do brasileiro”, realizada pela Fecomércio-RJ em parceria com a Ipsos Public Affair. O objetivo era analisar os hábitos de lazer relacionados com cultura, como ir a um show de música, ao teatro, ao cinema, ler um livro ou apreciar um espetáculo de dança.
.
O dado negativo é que essa maioria que afirmou preferir a leitura está dentro de uma minoria de 43% dos entrevistados que disseram ter atividades culturais por hábito. Para mais da metade dos brasileiros (57%), ir a um teatro ou ler um livro está distante da realidade do dia a dia, ou por falta de conhecimento ou pelo simples fato de não gostar. O estudo refere-se ao ano de 2008, num comparativo a 2007. Foram visitados mil domicílios de 70 cidades, incluindo nove regiões metropolitanas.
.
A pesquisa também revela outro dado preocupante: 19% dos entrevistados não gostariam de fazer nenhuma das atividades culturais citadas. Entre os que fazem e gostam, a quantidade de livros lidos, de espetáculos, danças, exposições e filmes vistos ainda é considerada baixa. O estudo apontou que a média de livros lidos é de 5,1 por ano. Já os apaixonados por cinema assistiram a filmes apenas 4,1 vezes. Os fãs de músicas foram a 3,8 shows, enquanto os amantes da dança apreciaram 3,5 eventos. As exposições de arte ficaram em último lugar na preferência cultural do brasileiro, com 2,1 visitas.
.
É o bastante
.
Apesar dos dados, os entrevistados afirmaram que ler 5,1 livros por ano ou ir a um show de música 3,8 vezes é suficiente. E qual é o limite justo a se pagar por essas atividades ou bens culturais? O livro, que tem a preferência dos brasileiros, ficou com o maior valor: R$ 20,00. Os que preferem música afirmaram que pagariam até R$ 17,00 por um show. Depois vem o teatro, R$ 16,00; a dança, R$ 14,00; as exposições, R$ 13,00. Também é R$ 13,00 o valor considerado justo por um DVD. Já o preço de um CD não poderia ultrapassar os R$ 10,00.
.
Mulheres leitoras
.
Os números referentes a livros apontados pela pesquisa têm um fator determinante: as mulheres dão mais valor à leitura que os homens. Dentro da média de 5,1 livros lidos em 2008, elas leram 5,5 enquanto eles, 4,7. O percentual que acha esse número suficiente, ou seja, que considera que não é preciso ler mais, é menor entre as mulheres, 52% contra 53% dos homens. Ao responderem à seguinte questão: Por ordem de preferência, o que você mais gosta de fazer?, 69% das mulheres disseram que preferem ler um livro, contra 61% dos homens. E para 2009, o que pretendiam fazer? Elas também deram prioridade à leitura, com 45% dos votos, enquanto 41% dos homens escolheram os livros.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Repórter de Campinas conta sua história de leitura

.
Cresci numa comunidade rural. Meus pais eram analfabetos – minha mãe trabalhava na lavoura e meu pai era domador de animais. E uma das minhas tarefas quando saia da escola era 'pastorear' as vacas e bezerras do meu pai. Eram tardes intermináveis e cansativas. E o marasmo foi amenizado com leituras. Sem ninguém para me orientar e com pouco dinheiro, comecei a comprar em sebos livros melosos como Sabrina, Bianca, entre tantos outros. E aos poucos fui tomando gosto pela leitura e comecei a incluir outras leituras, como a Coleção Vaga-Lume. Até hoje guardo em minhas lembranças As Aventuras de Xisto, entre tantos personagens que povoaram a minha adolescência.

O resultado de tudo isso é que acabei me apaixonando pela escrita e hoje sou repórter. Moro em Campinas e trabalho no jornal Correio Popular e sou colunista da BandNews FM. Tenho também um blog.
.
E para estimular a leitura, como sou protestante, já montei duas bibliotecas nas igrejas que frequento. No começo, as pessoas locam apenas livros pequenos e com poucas páginas. Mas depois de um período aprendem a gostar e já não escolhem mais as leituras pelo número de páginas. Por isso, acho que os livros devem estar ao alcance de todos – sem preconceitos de títulos.
.
(Rose Guglielminetti, Repórter Política do Correio Popular. Contribuição enviada por e-mail - ecoleitura@gmail.com. Para seguir Rose no twitter, clique.
.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Leitura melhora a função cerebral em crianças


Fonte: Portal UOL - 16/12/2009

Crianças com dificuldades de leitura e que passaram por um treino intensivo de seis meses mostraram que, além da habilidade de leitura também aumentaram a conectividade de uma determinada região do cérebro, o que proporcionou uma melhora cognitiva, diz estudo do Instituto Nacional de Saúde Mental (NIMH), dos EUA.

“Nós sabíamos que o treino comportametal podia melhorar as funções cerebrais”, diz Thomas Insel, do NIMH. “Mas o grande achado foi detectar as mudanças nos padrões de conectividade cerebral com o treino. Essa descoberta a partir de pacientes com déficits de leitura sugere que é possível tentar novas estratégias no tratamento de alguns transtornos mentais, que afetam circuitos neurais específicos.”

Treino intensivo

O estudo, publicado no periódico Neuron, foi conduzido por Marcel Just da Universidade de Carnegie Mellon, com crianças na faixa dos 8 anos de idade. A pesquisa partiu de quatro métodos diferentes com aulas de reforço de leitura. O foco dessas aulas eram aumentar a habilidade dos participantes de interpretar palavras pouco familiares.

As aulas foram dadas 5 dias por semana durante 6 meses, com média de 50 minutos de duração (100 horas no total). Os resultados positivos foram observados nos participantes de todos os grupos e, portanto, unificados no resultado final.

Os participantes também tiveram suas funções neurais monitoradas através de tecnologias que avaliavam a atividade cerebral por imagens. No início do estudo, as crianças com dificuldades de leitura mostravam uma pior qualidade no fluxo de informação através da região do cérebro denominada centro semioval anterior esquerdo.

Após os seis meses do experimento, com o treino intensivo de leitura, os indivíduos com dificuldade mostraram melhoras significativas nessa área, além de compreender melhor os textos que liam. O grupo de controle, que não havia tomado parte dos aulas de reforço, não mostrou nenhuma diferença, o que descartou a possibilidade de maturação natural do cérebro.Entretanto a associação entre leitura e mudanças na plasticidade cerebral ainda não estão claras, ou seja, se o processo de melhora, através de treino, de decodificação das palavras causa a mudança nas conexões neurais ou se a mudança na estrutura cerebral é responsável por uma melhora na interpretação de texto. De qualquer forma a leitura parece exercer uma influência positiva no cérebro.

"Nossos achados enfatizam os lados positivos de treinos comportamentais que aumentem a habilidade de leitura, mas isso pode levar a novos tratamentos de outras condições e transtornos mentais que estejam relacionado com a conectividade cerebral, como o autismo”, pontua Just.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

"Lê pra mim?"

Ensinar a ler e a gostar de ler
Jornal do Brasil - 09/01/2010 - Por Marcelo Aouila
.
.
O projeto Lê pra mim? começou há 18 anos, quando a filha da atriz e produtora Sônia de Paula pegou um livro e entregou para a mãe dizendo, “Mãe, lê pra mim?”. Imediatamente Sônia pegou o livro e leu aquela história para a filha. Ao fim da leitura, a menina contou que a professora tinha dado o livro para que ela pedisse à mãe para ler. Sábia professora. Neste gesto estava contida uma gama de atitudes e informações que incentivaram a pequena Maria Eduarda a ler, coisa que faz diariamente até hoje, e a Sônia a ler para a filha. Escrevo contos desde o ano 2000 e faço parte do Clube da Letra, um grupo de literatura. Sônia me contou esta história em 2008 e então começamos a bolar um projeto que pudesse dar vida a este pedido: “lê pra mim?”. Pronto, já tínhamos o titulo. Chegamos aos Correios, que se interessaram em colaborar com o projeto. Sônia convidou atores e atrizes, que ficaram honrados em participar, e nós contactamos os autores, que ficaram felizes por ajudar a incentivar as crianças a lerem através de seus livros. O projeto “Lê pra mim?” é realizado no Centro Cultural Correios, na Rua Visconde de Itaboraí, 20, Centro – Rio de Janeiro/RJ, às 17h (com distribuição de senhas uma hora antes).

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Mãe é a principal influência nos hábitos de leitura

Leitura
Mãe é principal influência
PublishNews - 17/12/2009 - Por Redação

A pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” ainda constatou que a influência da mãe (ou responsável mulher pela família) nos hábitos de leitura é preponderante: 73% das crianças citam as mães como maior influenciadora. Na resposta estimulada em que se podia escolher duas alternativas, a figura da mãe alcançou 49%, seguida pela da professora, com 33%; do pai com 30%; outro parente com 14%; amigo com 8%; padre, pastor ou líder religioso com 5%; colega ou superior no trabalho com 2%, outros com 3% e ninguém como influenciador de sua leitura, 14%. Apenas 1% disse não saber ou não opinou. A pesquisa mostrou também que a família pode, inversamente, influir na formação de não leitores, quando os membros da família não oferecem o exemplo de ler ou não detém a posse de livros.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

A Mulher na Janela (Amós Oz)

Amós Oz é um grande escritor israelense, membro da Academia de Letras Hebraicas. Foi pré-candidato ao Prêmio Nobel de Literatura e contemplado com o Prêmio Príncipe das Astúrias de Letras. Abaixo, o belo discurso de agradecimento por este prêmio, onde a Literatura aparece como um poderoso instrumento de compreensão mútua entre os povos.

Discurso de AMÓS OZ ao receber o Prêmio Príncipe das Astúrias de Letras em 26/10/2007. Traduzido por Moisés Storch para o PAZ AGORA/BR

.
A Mulher na Janela
.
.
Senhoras e senhores,

Vim de Jerusalém para lhes falar de paz. Permitam que lhes fale no idioma da Bíblia.

Se adquirir uma passagem e viajar a outro país, é possível que você veja as montanhas, os palácios e as praças, os museus, as paisagens e os locais históricos. Se a fortuna lhe sorrir, talvez tenha a oportunidade de conversar com alguns habitantes do lugar. E voltará para casa carregado com um monte de fotografias e postais.

Mas, se lê um romance, adquire uma entrada para os recantos mais secretos de outro país e de outro povo. A leitura de um romance é um convite a visitar as casas de outras pessoas e a conhecer seus cantos mais íntimos.

Se não for mais do que um turista, talvez tenha a oportunidade de se deter em uma rua, observar uma velha casa do bairro antigo da cidade e ver uma mulher debruçada à janela. E, então, dará a volta e seguirá o seu caminho.

Mas, como leitor, observa não só a mulher que olha pela janela. Está com ela dentro da sua casa, e até dentro da sua cabeça.

Quando lê um romance de outro país, você é convidado a passar à sala de outras pessoas, ao quarto das crianças, à cozinha, e mesmo ao dormitório. É convidado a entrar em suas dores secretas, em suas alegrias familiares, em seus sonhos.

Parte da tragédia árabe-judia está na incapacidade de muitos de nós, judeus e árabes, de nos imaginarmos uns aos outros. De imaginar realmente os amores, os medos terríveis, a ira, os instintos. Demasiada hostilidade impera entre nós, e demasiadamente pouca curiosidade.
Os judeus e os árabes têm algo em comum: ambos sofreram no passado sob a pesada e violenta mão da Europa. Os árabes foram vítimas do imperialismo, do colonialismo, da exploração e da humilhação. Os judeus foram vítimas de perseguições, discriminação, expulsões e, ao final, do assassinato de um terço do povo judeu.

Caberia supor que duas vítimas e, sobretudo, duas vítimas de um mesmo perseguidor, desenvolveriam certa solidariedade entre si. Desgraçadamente as coisas não são assim, nem nos romances nem na vida real. Ao contrário, alguns dos conflitos mais terríveis são aqueles que se produzem entre duas vítimas de um mesmo perseguidor. Os dois filhos de um pai violento não têm necessariamente razão para se amar. Com freqüência, vêem refletida um no outro a imagem do progenitor cruel.

Exatamente assim é a situação entre judeus e árabes no Oriente Médio: enquanto os árabes vêem os israelenses como novos cruzados, a nova reencarnação da Europa colonialista, muitos israelenses vêem nos árabes a nova personificação dos nossos perseguidores do passado: os responsáveis pelos pogroms e os nazistas.
.
.
Conhecer a outra mulher
.
.
Esta realidade impõe à Europa uma responsabilidade especial na solução do conflito árabe-israelense: no lugar de alçar um dedo acusador na direção de uma ou outra das partes, os europeus deveriam mostrar afeto e compreensão e prestar ajuda a ambas as partes. Vocês não têm razão para continuar elegendo entre ser pró-israelenses ou pró-palestinos. Devem estar a favor da paz. A mulher da janela pode ser uma mulher palestina de Nablus e pode ser uma mulher israelense de Tel Aviv. Se desejarem ajudar a que haja paz entre as duas mulheres das duas janelas, é conveniente ler mais sobre elas. Leiam romances, queridos amigos, aprenderão muito.

As coisas iriam melhor se também cada uma dessas duas mulheres lesse sobre a outra. Para saber, ao menos, o que faz com que a mulher da outra janela tenha medo ou esteja furiosa, e o que lhe dá esperança.

Não vim nesta tarde dizer-lhes que ler livros vá mudar o mundo. O que sugeri é que creio que ler livros é um dos melhores modos de compreender que, definitivamente, todas as mulheres, de todas as janelas, necessitam urgentemente da paz.Quero agradecer aos membros do júri do Prêmio Príncipe de Astúrias que me outorgaram este maravilhoso prêmio. Muito obrigado e meus melhores desejos a todos vocês.

Shalom Uvrachá. Paz para todos.


quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O déficit cultural brasileiro, segundo o IPEA

Presidente do Ipea alerta para importância de se investir em cultura
Marli Moreira - Agência Brasil - 15/12/2009
.
.
Se o Brasil quiser passar da nona para a quinta posição no ranking mundial das maiores economias do mundo, terá de vencer com alguns “gargalos” nos investimentos públicos nas três esferas de governo - municipal, estadual e federal - principalmente nas áreas de educação e cultura. O alerta foi feito na terça (15) pelo economista Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Pochmann fez a avaliação com base nos dados do estudo do Ipea Presença do Estado no Brasil: Federação, Suas Unidades e Municipalidades. A pesquisa, inédita, mostra a estrutura física do Estado brasileiro e a incidência de seus serviços.

Cursos universitários públicos, por exemplo, só estão disponíveis em 157 dos 5.562 municípios brasileiros, o equivalente a 2,8% do total de cidades. A maior parte (46%) concentra-se na Região Sudeste.

O ensino médio ainda não está universalizado. A pesquisa constatou que 46 cidades não têm estabelecimento público de ensino médio, em oito estados, sendo os cinco com maior número de municípios sem esse serviço: Minas Gerais (16), Rio Grande do Sul (12), Alagoas (dez), Tocantins (dois) e Pernambuco (dois).

Quanto aos investimentos culturais, a pesquisa mostra que em 2.953 municípios não há estabelecimentos públicos nesse segmento, quer sejam museus, casas de cultura ou de espetáculos. Desse total, 37% estão no Nordeste.

Apenas 905 cidades têm museus ou salas de espetáculo, o que significa 16,3% do total. O levantamento indica ainda que 44,7% dos brasileiros, em metade do território, não têm nenhum acesso a equipamentos de cultura. Também foi detectada uma baixa oferta de bibliotecas. Na média, existe uma biblioteca a cada 26,7 mil brasileiros.Para Pochmann, a área do conhecimento é imprescindível para as metas de crescimento econômico do Brasil. Na sua avaliação, a ausência do aprimoramento do ensino pode comprometer a oferta futura de mão de obra qualificada.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Tudo Aconteceu na Biblioteca *



Era meu primeiro dia
na biblioteca daquela cidade.
Uma linda biblioteca,
cheia de muitos livros novos e usados,
cadeiras confortáveis também,
mesas redondas bem bonitas,
ali combinava bem.
Computadores e um povo que atende bem,
Pois o bibliotecário
foi logo me dizendo:
no que posso lhe servir?
Eu olhei de um jeito esperto
lhe falo pra ser sincero/
Quero ler o livro O poeta do povo
Vida e Obra de Patativa do Assaré
do autor Assis Ângelo.
Ele logo me atendeu
e agora aqui estou eu
lendo com satisfação
o poeta do Sertão Nordestino
que merece desde cedinho
tornar disciplina na Grade Curricular
nas escolas do Ceará .

No dia seguinte bem cedo
Em mais uma pesquisa a realizar
procurei o mesmo cidadão
pro livro me emprestar
Mas para minha tristeza
o livro ali na estante não está ,
Ele foi logo me dizendo
isso é o povo que esconde
pra ninguém poder pegar
De repente lhe respondi:
_ Que isso é covardia
com o pesquisador também.

Fui pra casa matutando:
um dia sem leitura
é um atraso para danar.
Mas ao chegar no dia seguinte
o livro pude encontrar,
passei o dia inteirinho ,
mas não pude concluir a pesquisa espetacular
pois a biblioteca tinha que fechar.
Daí imaginei , isso é de danar.
Tenho que da covardia usar,
colocar o livro em outra estante,
pra ninguém encontrar.
E no dia seguinte bem cedo,
a pesquisa completar.
.
.
.
* Maria Laudecy Ferreira, psicopedagoga, atua nas redes pública e privada no Estado do Ceará. Autora da Coleção Aprender Fazendo - livros didáticos e paradidáticos adotados em território nacional -, do qual o texto acima faz parte. Contribuição enviada por e-mail. ecoleitura@gmail.com
.
.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O Prazer de ler e escrever em grupo

.
.
Acredito que para desenvolver o interesse das crianças e adolescentes pela leitura e escrita, o (a) educador (a) tem que transmitir sua paixão pela literatura e a escrita, contagiando-nos.

Nesse ano de 2009, desenvolvi um Projeto piloto: O Prazer de ler e escrever em grupo, com o objetivo de instigar e desenvolver o gosto pela leitura e escrita, proporcionar a troca de experiência entre os alunos dentro do contexto literário e social e construir uma relação humana entre todos os envolvidos.

Através do Projeto O Prazer de ler e escrever em grupo, comprovei que essa mobilização literária é possível, que os alunos e as alunas se interessam e se sentem atraídos pela literatura, quando é incentivado e apresentado o mundo literário de maneira dinâmica, criativa e os provoque no desenvolvimento da escrita individual e coletiva.

Também constatei um dado negativo: hoje temos muito acesso a informação, conhecimento científico e obras literárias riquíssimas, porém poucos estudantes leitores, que, em alguns casos (em relação às crianças e os adolescentes) não sabem interpretar, compreender e fazer uma análise crítica dos textos.

Acredito que nesse trabalho foram semeados novos leitores e quem sabe futuro escritores literários.

Sendo assim, deixo a minha esperança que podemos contagiar novos leitores e escritores da nossa nova história do Brasil da literatura.
.
.
(Flaviana R. Bezerra, professora da Rede Estadual de Ensino em Natal, RN. Contribuição enviada por e-mail)